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Grand Theft SpellJammer! – segunda parte

Era difícil acompanhar os movimentos da figura sinistra que se aproximava de mim com movimentos sinuosos. A escuridão era quase total dentro do casco quebrado do nosso barco voador e eu tinha apenas vislumbres da pele lustrosa refletindo a luz das estrelas visíveis pelas grandes brechas nas paredes e teto. O rosto da criatura era uma massa líquida de tentáculos que se retorciam nervosamente. Ele passou praticamente do meu lado… eu poderia ter tocado no seu manto se estendesse a mão e a mera proximidade do Devorador de Mentes provocava estranhas visões de estrelas mortas e loucura. Retesei ainda mais o arco com duas flechas na corda e esperei o segundo monstro passar por mim. Os acordes distorcidos do alaúde da Barda estavam ficando cada vez mais estridentes enquanto ela usava a música pra manipular de alguma forma o poder do Elmo do nosso barco mágico para cegar os poderes mentais dos Illithids. Para eles era como se não estivéssemos ali…

Meus cabelos se eriçaram quando vi as criaturas que seguiam os Illithids, os grotescos animais que corriam pelo chão… cêrebros com patas que pareciam farejar nossos pensamentos….
A Barda fez um gesto com a cabeça pedindo para nos apressarmos, o esforço de manipular a poderosa magia do Elmo a estava esgotando rapidamente. Vi o Paladino se movendo ruidosamente e se posicionar para atacar os últimos dois Devoradores que subiam no convés enquanto o Mago gesticulava convocando um feitiço. A música falhou por um momento. Os quatro monstros se agitaram percebendo nossa presença em meio às ondas mágicas emanadas pelo motor do barco voador.

-Agora! – soltei as duas flechas que acabaram em um instante com os inimigos mais próximos. O Mago liberou uma corrente de relâmpagos que varreu os farejadores que vagavam pela sala e o Paladino despachou outro Illithid com um movimento da Vingadora Sagrada. Mas o último deles fixou os olhos negros em mim e se moveu com uma velocidade apavorante na minha direção estendendo os tentáculos faciais para meu rosto.
Tentei puxar as espadas mas já era tarde…

KABONG!!!!

O alaúde se espatifou no rosto do Illithid jogando-o para trás e o Paladino acabou com ele em um instante.

– O-Obrigado…

A Barda olhou o instrumento destroçado pendendo pelas cordas e soltou um suspiro.

-Como você conseguiu nos ocultar deles? Manipulou as armônicas do Elmo ou algo assim?

-Ah… Você não ia entender.

-Porque não sou bardo?

-Porque é burro.

Por isso eu prefiro a companhia de bichos.

-Acho que não há mais nenhum deles por perto, Ranger – o Paladino olhou para o terreno rochoso ao redor. À distância era possível ver as torres da fortaleza que encimava o lendário SpellJammer, e os movimentos de barcos voadores Illithid e dos escravagistas neogi. A paisagem era iluminada pelas estrelas distantes e pela luminosidade fantasmagórica da densa nebulosa de phlogiston que atravessávamos.  – Mas estamos presos aqui sem o barco voador.

-Oras, estamos sentados no maior barco mágico de todos os tempos. Porque não ficamos com ele?

O Mago, o Paladino e a Barda me olharam com curiosidade esperando para ouvir meu grande plano pra sequestrar o SpellJammer e voltar para casa com os tesouros inimagináveis que ele guardava.

Eu não tinha nenhum, óbvio, mas detesto decepcionar as pessoas, então comecei a falar exibindo meu melhor sorriso de negócios…

O cenário

Pequeno vídeo para mostrar a caixa básica do cenário. Comprei pelo preço absurdo de R$12…

Esta é a continuação deste artigo AQUI

Os mundos

O universo de SpellJammer está pontilhado de esferas de cristal chamadas de… Esferas de Cristal… Cada uma delas encerra planetas ou sistemas solares inteiros e foram construidas por poderes desconhecidos. Alguns sábios especulam que os deuses as criaram para proteger seus mundos das tempestades de pholigston que arrasam tudo em seu caminho e outros acreditam que foram feitas por um poder além dos deuses para mantê-los confinados por alguma razão. Poderes e magias relacionados com divindades podem enfraquecer ou ser alterados enquanto se navega pelo phlogiston.

As esferas de cristal são gigantescas e indestrutíveis (até onde se sabe… hehehe) mas possuem aberturas naturais ou magicamente criadas que permitem a passagem de veículos e criaturas. Algumas esferas tem portais ativos, outras reagem aos barcos mágicos que percorrem o universo e se abrem naturalmente outras ainda exigem magias, comandos ou só abrem em circunstâncias especiais. Criaturas como dragões e o lendário SpellJammer possuem o poder de criar passagens nas esferas à vontade.

Os Elmos

helm

Os barcos mágicos que percorrem o espaço são basicamente veículos comuns equipados por um dispositivo chamado de O Elmo. Ele permite transformar magias em força motriz. Quanto maior o nível da magia, mais veloz a viagem ou mais longo o alcance. Durante a navegação o operador fica impossibilitado de lutar, tendo que se concentrar na navegação e as magias consumidas se recuperam no ritmo e pelos meios usais (clérigos rezando, magos estudando). Espécies que não usam magia tem as suas próprias tecnologias: Os anões propelem as suas fortalezas construidas em asteroides com Forjas que convertem a energia usada na criação de itens em movimento. Os Devoradores de Mentes, usam energia psiônica com dispositivos parecidos aos Elmos mas conectados em série para permitir que vários operadores reúnam seu poder. Por outro lado, os perigosos beholder criaram sua própria versão de Elmo para impulsionar uma colônia pelos abismos do espaço: o Orbus, um beholder modificado para servir apenas a esse propósito. O interessante com eles é que não tem vontade própria, então podem ser capturados e usados por outras espécies, coisa que os beholder tentam evitar a qualquer custo evidentemente.

A Rocha de Bral

Na caixa básica de SpellJammer é oferecida uma localidade onde situar as campanhas: um asteroide que até poucas décadas atrás era um covil de piratas e agora se tornou uma florescente cidade comercial chamado de A Rocha de Bral, onde se encontram todas as espécies e se preparam aventuras ou se tramam conspirações que vão afetar muitos mundos. Sua superfície e subterrâneo ainda permite ver as marcas de sucessivas ocupações por diversas espécies e esconde muitos segredos que podem desencadear eventos cataclísmicos

A Rocha de Bral

Um grupo de fãs malucos de SpellJammer fizeram um mapa insano do universo que permite observar as esferas de influência de cada espêcie e as correntes de pholgiston usadas como rotas comerciais (sério… que incrível). Confira!

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SpellJammer – 1ª Parte

Grand Theft SpellJammer! – primeira parte

Adoro finais felizes…

Queria ver um deles de vez em quando…

O convés estava em chamas, com destroços e corpos espalhados por toda parte. Eu corria evitando com dificuldade as manchas de óleo incendiadas e esquivando os ataques dos enormes umber hulks que projetavam as mandíbulas de tenaz em minha direção, tentando pegar uma lembrança. O chão estremecia e vergava sob o peso das criaturas, e estávamos ficando sem espaço para lutar…

Os escravos que havíamos resgatado rezavam aos gritos e amaldiçoavam a hora que os havíamos tirado das celas. Atrás de nós, a arraia gigantesca, ao mesmo tempo navio espacial e fortaleza inexpugnável, conhecida como Spelljammer, em cujas masmorras cheias de armadilhas, eles haviam sido obrigados a procurar tesouros, ia ficando mais e mais para trás e sumindo em meio à nevoa fantasmagórica do phlogiston, mas um enxame de navios em forma de aranha levantava voo para nos perseguir.

No fundo do convés, como última linha de defesa protegendo o leme onde nosso mago controlava o navio com o auxílio do Elmo, a Barda dedilhou o alaúde libertando uma série de acordes frenéticos. Ao mesmo tempo que meu coração dava um pulo com ânimo renovado, os monstros detiveram seu ataque, subitamente confusos.

Tínhamos os segundos de que precisávamos…

-Acerte os neogi, Ranger!!! – bradou o Paladino avançando com a Vingadora Sagrada relampejando contra o monstro mais próximo. A pesar de perigosos, os umber hulks eram apenas montaria dos escravagistas neogi, a escória do universo. Desconcertados pela paralisia de seus escravos, os pequenos monstros arregalaram seus olhinhos negros para nós, do alto das selas nas cabeças dos monstros, apavorados pela repentina desvantagem. Puxei da aljava uma flecha atrás da outra e as vi voarem certeiras contra os desgraçados enquanto o Paladino derrubava os gigantes que ainda lutavam.

A batalha havia virado. Fiz um gesto de reconhecimento pra barda.

-You rock!!

Ela afastou o cabelo moreno da testa suada e sorriu de volta.
-Disponha, seu ridículo… – e então olhou para um ponto atrás de nós com uma expressão apavorada.

Me virei a tempo de ver um novo perseguidor, muito mais rápido e perigoso que os navios aranha dos neogi.

Com o casco negro e oleoso, uma enorme concha espiralada e uma proa de tentáculos afunilados que se retesavam enquanto ele acelerava em nossa direção para nos abalroar.

Não tive tempo de pensar. Teria sido a morte de todos nós.     Minha mão pegou a flecha de penas vermelhas e eu pronunciei um comando enquanto retesava a corda do arco. A flecha se incendiou instantaneamente e deixou um surco luminoso enquanto desenhava uma parábola perfeita em direção à rota do nautiloid dos Devoradores de Mentes.

Todos sabiam o que ia acontecer e procuraram cobertura, exceto o mago que permanecia imóvel, concentrado em nos tirar dali.

A flecha flamejante saiu da bolha de ar ao redor do nosso navio voador e entrou em contato com o vapor fantasmagórico de phlogiston. O universo explodiu em chamas.

A bola de fogo lambeu a popa do nosso navio varrendo tudo o que estivesse solto no convés e engoliu o nautiloid. Não tive tempo de comemorar, o corpo de um umber hulk voou pra cima de mim e me arrastou rodopiando por cima da amurada para… baixo… vi o navio se afastando cada vez mais rápido, enquanto o mago consumia suas magias mais poderosas para fazê-lo acelerar. E então, o frio e o vazio do espaço me envolveram…

Numa era maluca conhecida como Os Anos 80, a frase “mas que ideia imbecil!” estava absolutamente proibida nos domínios da TSR (Tactical Studies Rules) e assim, coisas maravilhosas (e discutíveis) aos montes chegaram às mãos de fãs ávidos por novidades para ampliar as possibilidades dos seus jogos de fantasia. Entre terror gótico (Ravenloft), Dragões a dar com pau (Dragonlance), e Lawrence da Arabia encontra Elminster (Al Qadim), chegou o inacreditável SpellJammer, o suprassumo da demência adolescente!
Sim, Dungeons and Dragons no espaço!!!

spelljammer
Mantendo as mesmas premissas que os settings mais tradicionais, temos a experiência medieval fantástica mas pondo em primeiro plano as viagens. Em vez de resolver tudo magicamente com um portal que levasse os personagens de um extremo a outro do universo, os heróis deveriam percorrer o trajeto em navios mágicos propelidos por mecanismos misteriosos e enfrentando perigos como beholders errantes, escravagistas, frotas em guerra vagando pelas fronteiras incertas de civilizações galácticas, navios tripulados por piratas zumbis (quem imaginaria que Piratas do Caribe pegaria a ideia depois?) e as estrelas desse setting, os sinistros Ilithids, os Devoradores de Mentes. Cada raça tradicional de D&D, elfos, anões, orcs, humanos, tinha seus próprios veículos que refletiam suas características e dava um colorido especial ao cenário. Os elfos possuíam enormes e delicados navios que imitavam a forma de insetos ou aves; os anões construíam fortalezas errantes e os humanos, bem, barquinhos bem tradicionais, como galeões.

O espaço percorrido pelos navios mágicos não está vazio, senão que é preenchido por um gás misterioso conhecido como Phlogiston, que forma correntes que podem encurtar as viagens entre os mundos espalhados pelo universo. Mas o Phlogiston também oferece grandes perigos: é agitado por tempestades devastadoras que se extendem por distâncias inacreditáveis, é irrespirável e… inflamável… (bwahahahaha…)

Spelljammer é um dos mais inspirados settings e um dos que reflete a preocupação de oferecer regras consistentes, críveis e uma erudição absurda que chega ao ponto de representar todas as teorias planetárias conhecidas (e um monte de outras inventadas na loucura) nos diferentes sistemas estelares oferecidos na caixa básica, que são basicamente, todos…

Sim, porque a primeira razão de ser de SpellJammer é oferecer uma forma prática e consistente de viajar entre os diferentes mundos de D&D. Um grupo de aventureiros de Forgotten Realms poderia dar um pulinho em Greyhawk, para apanhar da lendária (e linda!) bruxa Iggwilv; ou se aventurar em Dark Sun para pegar um bronzeado de surfista.

E, claro, não poderia faltar, uma enooooorme masmorra a desbravar…

O SpellJammer, que dá o nome ao cenário! Uma gigantesca embarcação com forma de arraia, coroada com uma cidadela misteriosa e deserta cujas entranhas escondem tesouros inimagináveis… e o maior de todos? Controlar a maior e mais poderosa fortaleza espacial do universo… Essa misteriosa estrutura, construída num passado esquecido por uma civilização desconhecida, singra os espaço numa rota errática com um propósito que só é conhecido dos deuses… mas a sua aparição sempre anuncia grandes acontecimentos ou terríveis catástrofes…

the-spelljammerO universo de SpellJamer está pontilhado de mundos famosos e outros ainda desconhecidos (sim, pode colocar o que quiser lá, inclusive o meu favorito: o planeta praia), envoltos em gigantescas esferas mágicas de cristal, eles vagam pelo infinito aguardando a chegada de heróis!

No próximo post, detalhes do setting!