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Personagens Subversivos e o Clérigo Ateu

Saudações, jogadores e DMs! É com muito prazer que anuncio minha chegada neste maravilhoso blog. Meu nome é Márcio Loureiro e sou o mais novo colaborador do Rolando20. Pretendo trazer algumas discussões interessantes nos textos que postarei, além de dar algumas dicas do que a Wizards anda produzindo de melhor e compartilhar um pouco das minhas experiências para tornar as nossas sessões mais divertidas.

Bem, com o tempo vocês perceberão que eu amo os clichês do RPG. Mas vivo numa dualidade, pois também sou aficionado em subverter esses clichês. Usando conceitos conhecidos por todos para criar situações surpreendentes.

Recentemente, navegando entre grupos de discussão sobre D&D no facebook, me deparei com um tópico a respeito de como utilizar personagens subversivos em campanhas. Achei que esse seria um ótimo assunto para meu primeiro post por aqui. Entretanto, no dia seguinte, surgiu uma nova discussão, fomentada pela primeira. Era o seguinte: Dá pra jogar com um Clérigo Ateu?

De cara eu já responderei essa pergunta com a mesma resposta que ouvi dos meus professores durante os cinco longos anos de faculdade: Depende! O importante aqui é perceber quais são estes fatores. E, em minha opinião, tudo depende de qual cenário a campanha se passa e o que você entende como ateísmo.

Antes de entrar nestes dois fatores devemos entender o básico. De onde vem a fonte de poder do clérigo? De acordo com o Player’s Handbook da Quinta Edição, os clérigos atuam como condutores da magia divina, o poder dos deuses que flui para o mundo natural. Já de cara, o livro te apresenta os clérigos como mediadores entre o plano mortal e o distante plano dos deuses, além de serem imbuídos de magia divina.

Então, de acordo com o livro do jogador, um clérigo, não apenas acredita em um deus. Ele atua como ferramenta que comprova a existência deste. Maaaas, nem só de Livro do Jogador vive o homem. E, vasculhando o Dungeon Master’s Guide, podemos nos deparar com um subcapítulo chamado Gods of Your World. Lá vamos nós.

Em três parágrafos o Livro do Mestre já profana os ensinamentos de quem passou a vida de aventuras apenas em Faerûn. “Not all divine powers need to be derived from deities.” Praticamente, o que se aprende nesta parte do livro sempre esteve subentendido, mas nunca explicitado. Você não precisa, necessariamente, adorar uma divindade para ter poderes divinos. Filosofias, códigos de conduta e forças naturais facilmente ocupam o vácuo dos deuses em um cenário onde eles morreram, se ausentaram ou sequer existem.

Paladinos utilizam magias através de sua admirável força de vontade, patrulheiros e druidas se conectam com a força da natureza e bárbaros canalizam o poder de seus ancestrais.

Ok. Entendido. Se os deuses não existem no seu cenário, um clérigo pode adorar a natureza ou a bondade, e de através de sua espiritualidade canalizar a energia divina. Mas, e se os houver deuses nesse cenário e o clérigo simplesmente não acreditar? Pode isso, Arnaldo?

Bem, aí vai depender do seu conceito de “descrença”. Quando você está criando um clérigo ateu. Como você o imagina? Ele é um devoto que perdeu a fé, ou alguém que acredita que os deuses são apenas criaturas extraplanares que se alimentam de nossas vibrações e desejos? Ele pode de fato acreditar na existência de algo, mas ter sua própria concepção de o que de fato são os deuses. Ou até mesmo acreditar na existência deles, mas não depositar sua fé em algum, mas mesmo assim receber as benções de um a contragosto.

As possibilidades são extensas. Apenas acho difícil que, em um cenário onde os deuses se manifestam aos mortais com tanta frequência como Forgotten Realms, de fato um clérigo negue sua existência de fato. Seria o mesmo que negar a existência de magia, enquanto leva uma fireball direto na cara.

Conclusão

Independente do cenário ou da crença de seu personagem, sempre da pra encaixar um background de personagem bem bolado. Se você quer subverter o clérigo e criar um descrente que usa um poder em que não acredita, seja cauteloso. Entenda o cenário em que você está inserido e crie uma filosofia pessoal para este personagem.

Você é um clérigo, suas crenças são fortes e solidificadas. Explique para aqueles a sua volta seu modo de pensar e o porquê de agir assim. As pessoas são únicas e os personagens são vivos. Talvez, você seja apenas um clérigo misterioso, que diz não acreditar nos deuses, mas está envolvido em um grande mistério. De qualquer forma, o que delimita seu personagem é a sua imaginação.

Por fim, tente não subverter o cenário, utilize as estruturas construídas pelos autores para fortalecer ainda mais os conceitos do seu personagem. Você pode pegar informações canônicas para dar robustez a ele. E no fim, mesmo um conceito tão absurdo quanto um clérigo ateu pode se encaixar perfeitamente na campanha e construir um jogo intrigante e divertido.

Então, entre na área de comentários aqui embaixo e me deixe saber qual a sua opinião sobre o assunto. Seu comentário é nosso combustível. Concorda com o texto? Achou tudo uma viagem sem fundamentos? Críticas são bem vindas, vamos fazer dos comentários uma área para discutirmos saudavelmente sobre o hobbie. E rolem 20 (com vantagem)!

Por Márcio Loureiro

Márcio Loureiro advoga para sustentar o vício em RPG. Já fazia fichas de personagem na folha de caderno aos 10 anos como brincadeira de criança. Sempre foi o DM, mas ama jogar com um bom e velho paladino. O primeiro sistema que conheceu foi D&D 4e, porém adorou mestrar Numenera, Star Wars FFG, Shadowrun 5th Edition, FATE, Vampire e agora D&D 5e. Instagram: @marcioloureirojr

7 respostas em “Personagens Subversivos e o Clérigo Ateu”

um post com ideias bem pertinentes, boa escrita e referências ao longo do texto, bem legal mano, parabéns.

Achei interessante o seu ponto de vista, mas devo apontar um erro em um quesito.
Não existe “a sua definição de ateísmo”, a palavra já é muito bem definida na língua portuguesa:
Ateísmo
substantivo masculinoFIL
1.
doutrina ou atitude de espírito que nega categoricamente a existência de Deus, asseverando a inconsistência de qualquer saber ou sentimento direta ou indiretamente religioso, seja aquele calcado na fé ou revelação, seja o que se propõe alcançar a divindade em uma perspectiva racional ou argumentativa.
2.
rel impr. denominação atribuída às concepções heterodoxas ou dubitativas a respeito da existência da divindade, tais como o panteísmo, o ceticismo, o deísmo enciclopedista etc.

Por definição lógica, em um cenário em que os deuses sejam reais e existentes, como Faêrum, não pode existir um Ateu, creio que a ideia seja um Clérigo Agnóstico, mas nunca Ateu. Em um cenário em que os deuses já andaram sobre a terra e, até o presente momento (5e), influenciam os mortais de inúmeras formas, incluindo comunicação direta o Ateísmo, por definição da palavra, é impossível.

Agnosticismo
substantivo masculino
fil doutrina que reputa inacessível ou incognoscível ao entendimento humano a compreensão dos problemas propostos pela metafísica ou religião (a existência de Deus, o sentido da vida e do universo etc.), na medida em que ultrapassam o método empírico de comprovação científica.

Clérigo ateu, conceito curioso e combinação possivelmente interessante.

Abriu um leque de opções para um possível futuro clérigo!!!

– A massa pede por um diário de campanha, meu Lorde!!
-Aaaaaghh, tragam as cabeças!… Ah,quer dizer, os diários de campanha!!!! Aaaaaghh!!!

Para mim um clérigo ateu não acredita em seu deus e portanto não consegue canalizar a energia que vem deles, não teria poderes divinos. Seria um clérigo comum sem nada de mais. Mas poderia haver um arquétipo de Clérigo ateu que possui habilidades específicas baseado em uma pessoa que não acredita em nada.

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